Camila Cenci Explica: Retrogosto – de volta ao básico
Há quem afirme que “beber” um vinho é diferente de “degustar” um vinho. Embora pareça algo semântico, Enófilos são adeptos de alguns ritos no momento de apreciar sua bebida o que poderia explicar esta diferenciação.
Um dos protocolos mais importantes é o que rege o contato com os nossos sentidos do olfato e paladar: se não forem do nosso agrado, c’est fini, não se toma um segundo gole.
Este primeiro momento é o “ataque” ou entrada. Avisados pelo que foi sentido ao apreciar os aromas, tem-se uma expectativa sobre o que vai acontecer na boca. As possibilidades passam por acidez, adstringência, doçura, maciez, calor e carbonatação que são determinantes no sabor. Cada uma destas características é o resultado da presença, acentuada ou não, dos principais elementos que compõem um vinho. Acidez traz a sensação de refrescância, taninos respondem pelas sensações ásperas, o teor alcoólico passa calor e assim por diante.
É no momento do ataque que se decide se um vinho agrada. Cada uma das características mencionadas, de forma individual, constitui a “estrutura” do vinho. Em conjunto e bem equilibradas, se transformam nas “sensações em boca”.
Se realmente existem diferenças entre “beber” e “degustar”, é neste ponto que talvez haja alguma inflexão. Dar aquele grande gole não vai revelar nada. A bebida vai passar batido e cumprir sua função de inebriar, apenas. Por outro lado, um pequeno e elegante sorvo, que permita ao líquido ingerido passear por todo o palato, vai revelar todos os seus segredos.
A etapa seguinte, quase óbvia, é buscar como o vinho se mostra nos segundos após o impacto do ataque. Enche a boca ou nem é percebido? Qual é a textura: áspera, suave, arenosa, mastigável, luxuosa?
Isto é o que se chama de “meio de boca”. Em conjunto com o “ataque”, vai trazer novas informações sobre o que estamos bebendo. Neste momento, degustadores mais experimentados são capazes de perceber pequenos detalhes que vão ajudar a descobrir o tipo de casta utilizada, origens, defeitos e até a idade do vinho.
A última etapa, o retrogosto, é o que sobra após o líquido ser ingerido. Um vinho que não apresenta sabores residuais se torna desinteressante, insípido, não disse a que veio. O oposto é aquele que nos deixa com algumas camadas de sabor, seja a espera de outro gole ou de um petisco que harmonize corretamente.
Não se pode diminuir a importância do retrogosto, cabendo a ele ser o elo com o que vem depois. Muitos especialistas usam este parâmetro para avaliar a qualidade da elaboração de um vinho. Entendem que quanto maior for a permanência do “final de boca”, melhor é a qualidade da vinificação, com seus desdobramentos diretos: matéria prima, higiene, maturação etc.
Apreciar um vinho desta forma não precisa de nenhum curso teórico. Basta absorver o que foi exposto aqui e dar tempo ao tempo. Não se apressem, desfrutem cada golezinho. Procurem fazer associações com sensações do dia a dia, pode mesmo ser aquela do arroz com feijão, bem temperadinho e com uma gotinha de pimenta malagueta.
Fonte: O Boletim do Vinho
Você já conhecia o retrogosto? Acesse as minhas redes sociais e continue acompanhando o meu portal para ficar por dentro de mais assuntos como este.