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Camila Cenci
Camila Cenci
- Empreendedorismo
02 Jan 2017 -

Camila Cenci e seu pai Waldemar Cenci estão colocando Brasília no mapa dos melhores grãos de café do Brasil

Em seu projeto, Waldemar Cenci conta com ajuda da filha, Camila Cenci Baron Quevedo, 27. Formada em agronomia, ela tem como meta criar uma marca de café da família.
Camila Cenci e seu pai Waldemar Cenci estão colocando Brasília no mapa dos melhores grãos de café do Brasil

Em grandes fazendas ou pequenas chácaras, produtores rurais experientes e profissionais de diversas áreas plantam e colhem grãos da mais famosa bebida nacional. Alguns são vendidos em larga escala e vão para um público mais exigente

Brasília também produz café. E de alta qualidade. Em pequenas, médias e grandes propriedades rurais do Distrito Federal, plantam-se grãos para os mais diversos públicos. Alguns são vendidos a marcas regionais e nacionais, expostas em supermercados de todo o país. Outros, selecionados, destinam-se aos apreciadores do espresso, oferecido em casas especializadas, em poucos restaurantes e em raras chocolaterias. Há ainda os feitos apenas por encomenda, de altíssimo padrão, caros, deliciosos.

A área plantada no DF é pífia, comparada à regiões de maior tradição no cultivo do café, como Minas Gerais e São Paulo. Mas os produtores brasilienses contam com consultores e tecnologia para fazer a cultura render o máximo no menor espaço possível. Dessa forma, a produtividade do grão na capital se tornou uma das maiores do país. No quadrilátero do Planalto Central, colhe-se, em média, 60 sacas de café ; cerca de 60kg cada ; em um hectare. A média nacional é a metade. Os dados são da Emater.

O café é plantado, colhido, torrado e empacotado no DF desde o início de Brasília. Mas só nos anos 2000 mais fazendeiros passaram a produzir o grão, animados pela rentabilidade ou simplesmente por realização pessoal. A capital tem as características necessárias para um produto de alta qualidade. O café candango é plantado em terrenos a mil metros de altitude, totalmente irrigados. Ele é o arábico, que se ambienta melhor às características climáticas da região. O fruto tem de 10 a 15 milímetros de diâmetro. Mas outros fatores influenciam no produto final.

Pai e filha

Waldemar Cenci, 59 anos, integra uma família gaúcha de Putinga, que veio desbravar o cerrado nos anos 1980. Ele foi o último de quatro irmãos a se mudar para o DF. Chegou em 1984. E, como tantos outros conterrâneos, decidiu investir tudo na agricultura. Começou plantando arroz e soja, na área rural de Planaltina. Só há cinco anos, passou a produzir café em uma das suas propriedades, onde cultiva trigo, feijão, milho e soja.

A lavoura de café ocupa 59 hectares da Fazenda Yanoama, no Núcleo Rural Café Sem Troco, no Paranoá. Até agora, houve duas safras. A primeira, em 2014. A segunda, em 2016. ;Café é um ciclo. Em um ano, a safra é ótima. No outro, é ruim. Mas, na média, é uma boa cultura;, pondera. Até agora, Cenci só tem a comemorar. ;O melhor é a produtividade. Para lucrar o que lucro com um hectare de café, tenho que plantar oito hectares de soja;, compara.

Na média das duas safras, Cenci colheu 75 sacas por hectare. ;Só não planto mais por causa da falta de água;, ressalta. A sua produção é vendida a negociadores de grãos. Portanto, o café da Fazenda Yanoama segue para outras unidades da Federação, onde é torrado e vendido com grãos plantados e colhidos em várias partes do país. Uma das marcas que usa o café de Cenci é a Estrela Dalva, de Formosa (GO). Mas o gaúcho pretende fazer todo o processo em sua propriedade.

Em seu projeto, Waldemar Cenci conta com ajuda da filha, Camila Cenci Baron Quevedo, 27. Formada em agronomia, ela tem como meta criar uma marca de café da família. ;A intenção é agregar valor ao café que plantamos.; Para tal, ela contratou um consultor, que ajuda com dicas para o grão ser cada vez mais puro. ;É um processo longo. Precisamos de uma certificação, de um selo;, comenta Camila. Sem falar em prazos, ela sonha com um café de alto padrão.

Padão Gourmet

Há oito anos, os Fontenelle se dedicam à produção de um café fino, 100% arábico e 100% brasiliense. Eles só mandam para o mercado os melhores grãos. Produto plantado, moído e ensacado na Fazenda Santa Rosa, a 70km do Plano Piloto, na região do Programa de Assentamento Dirigido do DF (PAD-DF). É vendido em mais de 150 restaurantes, cafeterias, docerias e mercados do Distrito Federal.

Eurípedes Fontenelle começou a cultivar café em sua fazenda há quase 20 anos. O que colhia, ele vendia a outras empresas, com outros produtores do cerrado. Mas, em 2008, ele decidiu apostar no mercado consumidor de cafés da capital. Criou uma marca, o Café Fontenelle, com a intenção de torná-la conhecida pela alta qualidade.

Para atingir o objetivo, Eurípedes estudou e contratou consultores. Passou a selecionar os grãos por qualidade e a fazer todo o processo. Montou uma pequena indústria cafeeira em sua propriedade ; um investimento de R$ 3 milhões.

Nem a morte de Eurípedes interrompeu o sonho dele. A família vendeu a fazenda, à margem da BR-251 (Brasília-Unaí), mas o novo dono continuou produzindo os grãos, que se tornaram o primeiro café gourmet brasiliense. Os 200 mil pés ficam em um terreno a mil metros de atitude, totalmente irrigado. Dona da marca, Thamis Fontenelle, 36 anos, gerencia todo o processo. ;O padrão de qualidade é a nossa marca. Por isso, acompanhamos a colheita, a classificação, o beneficiamento, a torra, a embalagem e a distribuição. Tudo na fazenda;, ressalta ela, uma entusiasta do café nacional.

O pioneiro

Na inauguração, em 21 de abril de 1960, Brasília já tinha seu próprio café. Graças ao visionário imigrante sírio Aziz Abdala Jarjour. Tendo desembarcado no Brasil em 1951, ele enxergou oportunidades de negócios na mudança da capital do Rio de Janeiro para Brasília. Por isso, decidiu fixar residência na cidade ainda em construção, em 1958. Com milhares de candangos nos canteiros de obra, investiu na agricultura. Dedicou parte da Fazenda Arábia a pés de café.

Em operação desde 1959, a Arábia Indústria & Comércio Ltda. é a empresa pioneira do grupo da família Jarjour, hoje em diversos setores da economia local. Até 2014, o Café Arábia era cultivado, colhido, torrado, moído e ensacado no DF. Primeiro, em uma área próxima do Plano Piloto. Depois, no Núcleo Rural, perto de Planaltina. Com mais de 2 mil hectares, a Agropecuária Arábia Ltda. hoje produz mais de 10 toneladas de grãos por ano, entre soja, milho, girassol e café. Eles dividem espaço com o gado da raça nelore.

Mas o café sempre foi o xodó da família Jarjour. Ao longo da história, ela vendeu 36 milhões de quilos no mercado local e outros tantos mundo afora, por meio de sua marca internacional, a Café Continental, que tem uma linha de cafés especiais. O Café Arábia recebeu, em 2015, uma atualização na embalagem e uma família de produtos relacionados ao café, como filtros de café, cappuccinos, café solúvel e achocolatado. Mas o Arábia mantém um aroma forte, persistente e de pouca acidez.

Com a morte do patriarca, a fazenda e o café Arábia ficaram sob a responsabilidade de um dos filhos dele, Nazih. Aos 74 anos, Nazih vive na fazenda, mas quem cuida do café é um filho dele, Aziz Jarjour, 44. Ele, porém, reclama da burocracia e dos altos tributos. ;Dois anos atrás, transferimos o beneficiamento dos grãos para a Bahia, pois os impostos lá são mais baixos. Com isso, ficamos com a indústria parada, sem gerar empregos no DF;, conta. Ele também se queixa da demora em liberação de alvará e dos altos custos no transporte. ;É mais barato o transporte de Santos para Dubai (Emirados Árabes) do que de Brasília para Santos, por exemplo;, compara.

Os orgânicos

O médico José Adorno, 56 anos, tem como um hobby a agricultura. Especificamente, a cafeicultura. É notório o seu prazer em falar sobre o café cultivado no quintal de casa, localizada em uma chácara, no Lago Oeste, onde mora com a família. De uma plantação experimental de 300 pés, há 10 anos, hoje ele tem 5 mil. Mas não é um café qualquer. Adorno só produz grão orgânico, 100% arábico, da variedade IAPAR, sombreado por bananeiras e outras árvores frutíferas. A colheita e a seleção são manuais e a secagem, híbrida, em terreiro suspenso e estufa.

Quando decidiu plantar café, Adorno nada sabia da cultura. Mas, como fez com a medicina, encarou o desafio e estudou bastante. Pouco tempo depois, não só plantava, como colhia, secava, torrava, moía e embalava os grãos em sua chácara. Deu ao produto o nome de Lote 17B, o endereço da propriedade. Agora, quer dar outro passo. Pretende transformar a propriedade em um ponto de encontro dos amantes da bebida, onde possam conhecer todo o processo e degustar o café fresquinho.

Já o matemático Márcio Jório entrou para história como o primeiro produtor de café orgânico do DF certificado vendido em cápsulas. Há um ano e meio, ele vende os estojos adaptados para cafeteiras do tipo espresso. Dentro deles vai o Café Serrazul, bebida gourmet, com aroma e sabor suaves, além de bastante saudável, produzida na chácara de Jório, também no Lago Oeste. São mais de 2 mil pés, em uma área de 1,5 hectare.

Jório teve a ideia de vender o café em cápsulas após participar da Feira Internacional do Café, em Belo Horizonte (MG), em 2014. No evento, ele conheceu o trabalho de uma empresa portuguesa que trata o pó de cafés orgânicos. A fim de embalar o Café Serrazul para máquinas de expresso, Jório passou a enviar o produto à unidade da multinacional europeia em Ribeirão Preto (SP). A empresa candanga também enfrentou um processo de certificação, pelo IBD Certificações, para encapsular o produto. ;Isso garante que o meu café não seja contaminado com outro. Todas as máquinas são limpas antes de eles iniciarem o procedimento;, garante Jório, 71 anos.

Iniciada há quase 20 anos, a lavoura do Café Serrazul é adubada com estercos naturais e rende 20 sacas por hectare, bem menos que o plantio convencional. A prioridade de Jório é manter o cultivo orgânico e tirar do solo o melhor resultado possível. A poda dos pés e a casca do café são moídos e voltam para o solo. A escolha do grão a ser processado é manual, como se cata o feijão. Só vão para a torra os de primeira qualidade. O ponto de queima é ao gosto do produtor. Nem mais, nem menos. No máximo, dependendo do cliente e da quantidade da encomenda, Jório regula a máquina e entrega o pó com diferentes granulações.

Para garantir um sabor diferenciado, o agricultor investe em outra técnica: a do descansado. ;Após a secagem, eu ensaco os grãos com a casca por um ano. Durante esse tempo de descanso, o grão absorve os açúcares naturais presentes na poupa. E isso reduz a acidez da bebida;, explica Jório. Ele passou a se dedicar mais à cafeicultura, após o início da aposentadoria, em 1997. Com a ajuda de um agrônomo, investiu na produção, buscando formas de agregar valor ao produto. Comprou uma máquina que permitia torrar e descascar todos os grãos, e ainda providenciou as embalagens.

Fonte: Correio Braziliense

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